terça-feira, 13 de maio de 2014

Há competitividade na Fórmula 1?


Lógico que há! Se não, não haveria disputa... Mas qual o nível dela? Ontem conversando com amigos na faculdade, eles disseram que isso é um aspecto que só vem diminuindo na categoria, e sem pensar muito, concordei no mesmo instante.

(Pois é, jovem, se você está aí no ensino fundamental ou médio, e não aguenta mais a galerinha falando só de futebol, fique tranquilo e aguenta mais um pouco, que na faculdade com certeza você encontrará outros loucos como você que preferem automobilismo).

Mas será que a tendência é sempre assim, e contínua? Ou não são eventos (ou melhor, temporadas) isoladas? Isso é de hoje, ou sempre foi assim?


Se voltarmos lá em 1984, ano do tricampeonato de Niki Lauda, veremos que das 16 corridas, 12 foram vencidas pela McLaren, seja pelo austríaco, seja pelo seu companheiro de equipe Alain Prost. 


Em 1988, no primeiro título de Ayrton Senna, a equipe de Woking só não venceu o GP da Itália, pois nem o brasileiro nem o francês chegou até o final. O vencedor foi Gerhard Berger, para a alegria dos fãs da Ferrari que lotavam as arquibancadas, como sempre. A aerodinâmica era fraca, mas a McLaren tinha um foguete no lugar de um motor, que vinha da Honda.

1992 e 1993 também foram anos de domínio, dessa vez de outra equipe inglesa: a Williams. Nessas duas temporadas, tendo 16 corridas, a equipe de Grove levou 10 troféus em cada uma. No final das contas, acabamos tendo Nigel Mansell campeão, e Alain Prost tetracampeão, respectivamente. Em 1993, principalmente, pela inovação da suspensão ativa. A Williams ainda teve uma força absurda em 1996, quando Damon Hill foi campeão pelo time de Grove.


É verdade que hegemonias, ou quase isso, fazem o espetáculo perder um pouco da graça, como foi a Scuderia entre 2000 à 2004, e a Red Bull nos últimos 4 anos. Mas o domínio nem sempre é absoluto. Vou falar da equipe austríaca, pois ela se encaixa mais nisso (não, não sou tifosi, mas é que a Ferrari foi uma máquina quase imbatível mesmo). 2010 e 2012, não foram anos fáceis para Sebastian Vettel. No primeiro, ele era o que tinha menos chances de ser o campeão, ficando bem atrás de seu companheiro e salvo engano líder do campeonato Mark Webber, do favorito Fernando Alonso pela equipe de Maranello, e até da dupla da McLaren, Lewis Hamilton e Jenson Button. Mas na última corrida, o GP de Abu Dhabi, o subestimado alemão superou todos os adversários, vencendo a corrida e levando o caneco, tornando-se assim o campeão mais jovem da história, aos 23 anos. 2012 foi bem parecido, com ele ficando atrás no começo, e correndo atrás do prejuízo depois, conquistando o título na última corrida, de novo, dessa vez no GP do Brasil. Se o carro de Button, que foi o vencedor, tivesse quebrado e Alonso que foi o 2º assumisse a posição, o espanhol seria tricampeão.


Então, desde que a FIA (Federação Internacional do Automóvel) faz mudanças profundas para equilibrar o jogo, este só se torna mais desequilibrado?

Começando com a primeira mudança de motores dos últimos anos. A entrada do V8 2.4L aspirado, em 2006. Naquele ano não uma, mas duas equipes protagonizaram a temporada toda: Renault e Ferrari, com Fernando Alonso e Michael Schumacher disputando cada ponto. Uma vez, o italiano Giancarlo Fisichella venceu pela equipe francesa, e o brasileiro Felipe Massa levou duas vitórias para a Itália. Começando pelo GP da Turquia, que ele voltou a vencer nos dois anos seguintes, e no GP do Brasil, onde um piloto da casa não vencia desde Ayrton Senna em 1993. Ah! E o caso mais raro: Jenson Button vencendo pela Honda, no GP da Hungria. O "resto", Schumacher ou Alonso, com o espanhol levando o bicampeonato no final da temporada.

No ano seguinte, só duas equipes venceram mesmo: Ferrari e McLaren. Porém com um bom número de vitórias para cada um de seus pilotos, tornando a disputa quase sempre equilibrada. Felipe Massa venceu 3 corridas pela Ferrari, enquanto seu companheiro Kimi Raikkonen teve 6 vitórias. Fernando Alonso venceu 4 pela McLaren, e seu companheiro, o estreante Lewis Hamilton, também venceu outras 4 corridas. Na última corrida, o finlandês conquistou seu título apenas por 1 ponto sobre o estreante inglês, que cometeu um terrível deslize que o fez perder algumas posições. O forte duelo interno prejudicou a McLaren.

Mais interessante ainda foi o ano de 2008: 7 vencedores, de 5 equipes diferentes. Felipe Massa foi quem venceu mais, subindo ao lugar mais alto do pódio 6 vezes, incluindo novamente o GP do Brasil, o último da temporada, que desde então não foi vencido por outro brasileiro. Seriam 7, se o motor da sua F2008 não tivesse quebrado nas últimas voltas do GP da Hungria, quando a vitória caiu no colo de Heikki Kovalainen (a única dele) que corria pela McLaren. O então campeão Kimi ganhou apenas 2 vezes, enquanto seu rival do ano anterior que perdeu o título por 1 ponto, dessa vez o conquistou por 1 ponto também, tendo vencido 5 vezes (mas a Ferrari foi campeã entre as equipes). Além destes, tivemos a única vitória de Robert Kubica, no GP do Canadá, pela BMW Sauber, na mesma pista em que no ano anterior ele havia sofrido um dos piores acidentes da Fórmula 1 moderna. Com a saída temporária do polonês, o reserva Sebastian Vettel assumiu seu cockpit, posteriormente se transferindo para a Toro Rosso, na qual em 2008 ele conquistou suas primeiras pole e vitória no GP da Itália. A única vitória da divisão italiana da Red Bull, e correndo em casa. Ainda houve duas vitórias consecutivas de Fernando Alonso, que estava de volta à Renault. A primeira, beneficiado pela polêmica do GP de Cingapura, quando seu companheiro Nelsinho Piquet bateu de propósito por ordens do chefe Flavio Briatore, e depois no GP do Japão, que naquele ano foi disputado no autódromo de Fuji no lugar de Suzuka.


Estava tudo indo muito bem, até a FIA mexer nos pauzinhos de novo para a temporada de 2009. A parte aerodinâmica foi a mais afetada, mas foi de onde veio o pulo do gato naquele ano.

Bem, no final de 2008 houve aquela crise econômica, e a Honda foi prejudicada, tendo que retirar a sua equipe da Fórmula 1 de última hora, quase aposentando Jenson Button e Rubens Barrichello. O chefe, Ross Brawn, conseguiu comprar a equipe por um preço baixo e chamou seus pilotos de volta, criando o fenômeno Brawn GP, correndo com os motores Mercedes-Benz, já que a empresa nipônica deixou as competições de lado. Era para ser uma temporada equilibrada, ou não, e vocês já vão entender o motivo. Carros praticamente lisos, dos quais não se poderia tirar um proveito aerodinâmico extra, a não ser que... Pois é, a equipe autônoma estreante encontrou a brecha, com a solução genial de Ross e seu o difusor. Williams e Toyota também inovaram nisso, mas de longe a Brawn GP fez o serviço mais bem feito, e chegou com ares de domínio, até ser peitada por outra equipe que começava a sua ascensão também através da aerodinâmica: Red Bull Racing, com o brilhante Adrian Newey. Na terceira corrida da temporada, Sebastian Vettel venceu o GP da China. Apesar dessas duas equipes terem sido as maiores, Lewis Hamilton conseguiu vencer pela McLaren, e Kimi Raikkonen pela Ferrari. Uma vez cada, assim como Mark Webber, só que pela Red Bull. Rubens Barrichello venceu em Valência e em Monza. No final do ano, Button foi campeão, e Vettel vice. Naquele ano ainda tivemos uma inovação que durou até 2013: o KERS (agora substituído pelo ERS, mais eficiente), que colocava uma boa cavalaria extra à disposição do piloto para ser usada quando necessário da forma que ele quisesse (desde que tivesse carga, mas esta era recarregada a cada volta).


A Brawn GP campeã, durou só um ano, mas foi comprada pelos alemães fornecedores de motores, que chegaram como Mercedes GP, trazendo de volta o até então aposentado Michael Schumacher, e apostando numa jovem promessa que vinha da Williams, Nico Rosberg.


Não sei a razão, mas em 2010 o KERS sumiu (voltou em 2011 ou 2012). Já falei dessa temporada, que foi muito bem disputada e equilibrada. 3 equipes e 5 pilotos vencendo. 2011 sim foi um ano chato. Vettel passeava lá na frente, vencendo 11 de 19 corridas. Mas teve outra inovação: o DRS (asa traseira móvel). Também foram trocados os pneus, Bridgestone por Pirelli, mas isso é um assunto à parte para outro parágrafo. Em 2012, a Ferrari começou péssima, mas evoluiu bastante, com Alonso vencendo e Massa fazendo boas corridas no segundo semestre; Red Bull fazendo uma temporada normal, com ambos os pilotos disputando o campeonato; McLaren com dois canhões que davam vitórias à Hamilton e Button, mas que quebravam muito; E ainda vitórias de Maldonado pela Williams, Raikkonen pela Lotus, e Rosberg pela Mercedes, duas vezes. 2013, outro título antecipado de Vettel (e da Red Bull): o tetracampeonato consecutivo. Porém o domínio veio só depois das férias de agosto.

Voltando à 2012, este ano foi interessante para ver como é o desenvolvimento de um carro, com um belo exemplo da F2012 da Ferrari. Um carro que fica fora do Q3, posteriormente pode vencer corridas, principalmente se a estratégia for boa. E por falar em estratégia, vamos ao que mais as influencia: pit-stops. Com os novos pneus, muitos acusaram a Fórmula 1 de ter se tornado uma categoria na qual quem preservava melhor seus compostos, levava o caneco. Corrida de pneus, como disse Niki Lauda (alguém disse, e acho que foi ele). Não haveriam disputas nas pistas, mas só nos boxes. Em 2013 até mudaram os pneus ao longo da temporada, tirando vantagem de pouco desgaste da Lotus, e dando à Red Bull, Ferrari e Mercedes mais chances de vencer. Isso é o que eu não acho bacana: beneficiar equipes fortes por causa do "mimimi" delas, prejudicando quem fez o melhor trabalho na hora de projetar o carro. O Lotus E21 era econômico em pneus sim, mas também podia ser bem rápido, assim como seu antecessor E20, que venceu uma corrida e fez muitos pódios, seja com Kimi ou com Romain Grosjean.

Atualmente, a Mercedes AMG vem sendo imbatível. E nos testes da pré temporada, os novos V6 1.6L turbo da Mercedes-Benz já nos deram uma prévia de que seriam arrasadores. Mas como eu falei há pouco, os carros evoluem. Inclusive o motor Renault, tão ruim no começo, recebeu muitas atualizações vem melhorando rapidamente a cada mudança. A Red Bull que tinha uma carroça nos testes (e ainda assim bem veloz nas curvas), vem se aproximando cada vez mais da equipe alemã, e isso em pouco tempo. O "segredo" da Mercedes está aqui: http://autoblogpv8.blogspot.com.br/2014/04/formula-1-2014-o-que-e-que-mercedes-tem.html


É verdade que a FIA mexe demais no regulamento para buscar o equilíbrio, e podia liberar mais as equipes. Isso talvez poderia até provocar um desequilíbrio maior por parte de uma equipe, mas suas adversárias poderiam correr atrás do prejuízo. Isso era a Fórmula 1, e ainda deveria ser: disputa de inovações da mais alta tecnologia automobilística.

Corridas chatas como o GP da Espanha acabam influenciando muito a nossa opinião nos dias seguintes. Mas vamos nos lembrar melhor das outras corridas. Tudo bem que o GP do Bahrein foi dominado pela Mercedes, mais foi uma corrida linda, cheia de disputas. Principalmente duelos internos, incluindo dos líderes autores da dobradinha alemã. Não tem disputa? Talvez menos nos últimos dois anos, mas em 2011, por exemplo, com a entrada do DRS, os recordes de ultrapassagens por prova foram amplamente superados, e em 2012 foi a mesma coisa.

Por último, há sim uma distribuição de forças mais inalterável na Fórmula 1. Pode até mudar ao longo da temporada, mas raramente acontece, e é com uma ou outra equipe, não alterando tanto o quadro geral. Mas isso é meio óbvio. Apesar do regulamento estabelecer muitos padrões, as equipes continuam fabricando seus próprios chassis, diferente dos demais. Ao contrário da Indy, GP2, GP3, entre outras, por exemplo, que correm com os mesmos chassis e até os reaproveitam por uns bons anos (e salvo engano, são todos fabricados pela Dallara). Nessas outras categorias, há mais chances de vitórias totalmente inesperadas, até de equipes pequenas. Mas apesar da configuração inicial ser a mesma, cada um desenvolve seus carros de um jeito diferente.

A Mercedes está na frente? Sim, mas tem mérito. Isso pode mudar ao longo da temporada? Acreditem, pode mudar, assim como pode não mudar (ou pelo menos não tanto). Ano que vem isso pode se repetir? Pode, como foi com a Red Bull nos últimos anos. Mas o equilíbrio de forças será diferente. Ou outra equipe pode dominar. Ou podemos ter campeonatos mais disputados, como 2012, 2010, 2008, 2007...

De qualquer forma, corridas são legais de se ver! E que vençam os melhores (pilotos e/ou carros)!


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Um abraço!

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